Água Funda, adaptação em filme de obra literária de Ruth Guimarães, lota Auditório Frei Galvão

Membros da equipe do projeto cineatográfico, Água Funda
Membros da equipe do projeto cineatográfico, Água Funda • imagens: Fábio Seletti

Lançamento de filme, Água Funda, que retrata a obra da consagrada autora vale paraibana, Ruth Guimarães, lota o auditório Frei Galvão em Guaratinguetá. A história e a adaptação cinematográfica são ambientadas no Vale do Paraíba paulista e no Sul de Minas, demonstrando como eram as vivências nesses lugares entre o final do século XIX, ainda no período escravagista, até a década de 30 do século XX. A sessão em Guaratinguetá aconteceu no dia 11 de outubro.

O grande desafio do filme, Água Funda: “adaptar uma obra para o roteiro cinematográfico”, pondera Cássio Borges

Ao microfone - Joaquim, filho de ruth guimarães, participando da sessão de lançamento do filme, Água Funda - ao lado: Cássio Borges (diretor) e Patrícia Guia (atriz e figurinista)
Ao microfone – Joaquim, filho da escritora, Ruth Guimarães, participando da sessão de lançamento do filme, Água Funda – ao lado: Cássio Borges (diretor) e Patrícia Guia (atriz e figurinista)

Para o diretor e roteirista do filme, Água Funda, o maior desafio do trabalho foi adaptar uma obra para o roteiro cinematográfico. “Porque são muitas coisas. Principalmente porque é uma obra de Ruth Guimarães, uma obra complexa, como “Água Funda”, em que lidamos com inúmeros personagens, histórias, textos, lugares, épocas diferentes”, detalha.

Havia uma necessidade, na visão de Cássio, de se fazer a adaptação da obra literária para um roteiro, com a introdução de imagens e trazer elenco para “trabalhar essa potência artística dentro desse lugar”, foi o mais desafiador em sua opinião.

Água Funda: Os dois grandes momentos das duas obras

espectadores do filme água funda
Espectadores do filme, Água Funda

Um dos maiores desafios relacionados a roteirização é que o livro e o filme têm dois momentos – que se passam entre uma época e outra.

A primeira época acontecesse em 1880 – período escravocrata ainda, “muito complexo em nosso país”. Depois passam  50 anos. A segunda parte é em 1930. “Só que têm algo em comum. Acontecessem no mesmo lugar. Na mesma região, da Fazenda Olhos D’água” relembra Cássio.

“Então, essa questão da frieza da Sinhá e dessa postura um pouco mais colocada e dessas pessoas que são mais comunidade, que partilham muito mais o seu bem viver dentro dessa segunda fase, tem a ver um pouco com a forma com que esses cinquenta anos transformaram esse lugar”, explica o diretor.

Para Cássio, há também a questão de estratos sociais que ficam trabalhados em segundo plano na obra. “A ocupação de outras pessoas na fazenda, como elas interagiam com essa comunidade. A Sinhá não lidava com essas pessoas.”

Mas isso não impediria, em sua visão, que questões psicológicas que afetam essa senhora do café, do final do século XIX, venham a ser transmitidos para seus descendentes, mesmo que em níveis sociais diferentes.

“Conforme vai passando o tempo, a gente vai tirando todos esses personagens da gaveta e vamos mostrando quem eles realmente são. Porque eles estão ali, chegaram nesse lugar e o porquê de seus ancestrais terem ficado tão escondidos nessa amargura, ou nesse rancor, nessa frieza – que é o caso da Sinhá Carolina, por exemplo, que tem um parentesco com a Curiango.  Ela é tia avó da Curiango.”

São mulheres diferentes, mas são totalmente atravessadas pelo tempo, que as vai tornando amarguradas, medrosas, com sentimentos muito aprisionados por conta de relações que elas vão tendo que lidar ao longo desse período.

A leitura dessa obra é “transformadora”

espectadoras do filme água funda
Espectadoras do filme, Água Funda

Para Cássio Borges, a obra Água Funda, de Ruth Guimarães, é “uma história transformadora”.

O diretor inclusive relata que houve “muita percepção da minha identidade”, impactando a forma como vive e das pessoas com quem se relaciona. “Mudou muita coisa no meu pensar, nessa trajetória de pesquisa e de aprofundamento”, comenta.

Os presentes que a realização da obra cinematográfica, Água Funda, concedeu ao diretor

“Mudou agora que eu fiz cinema! Nunca tinha feito nada parecido.”, comemora Cássio.

O diretor relata que produziu alguns documentários na área de teatro anteriormente, porque “a gente é uma companhia de teatro, mas nunca um trabalho como esse. Um filme adaptado de uma obra, de um romance, de uma escritora local. Com toda essa responsabilidade”, analisa.

Além disso, agradece a presença de filhos de Ruth Guimarães, Júnia e o Joaquim, por terem “abraçado essa ideia e estarem aqui acompanhando e torcendo e dizendo para a gente ir adiante”, observa.

Também menciona que ganhou “muitos presentes no elenco. Como trabalhar com o Igor (o produtor audiovisual), com quem eu nunca tinha trabalhado. Foram muitos presentes.”

“Houve uma pesquisa muito grande”, relata a atriz e figurinista Patrícia da Guia

Patrícia Guia, atriz (Siná Carolina) e figurinista, juntamente com Cássio Borges - diretor
Patrícia Guia, atriz (Sinhá Carolina) e figurinista, juntamente com Cássio Borges – diretor

Patrícia interpreta a Sinhá Carolina, personagem central no primeiro momento da história, por volta de 1880, e também assina todo o figurino do projeto.

“Quando se inicia a pesquisa dos figurinos, se confere também a pesquisa do contexto histórico. Uma das maiores dificuldades foi adaptar o material que nós temos hoje para essas produções de época. Então o maior desafio foi encontrar peças de época para compor o figurino ou fazê-las “do zero”, explica Patrícia.

A atriz e figurinista do filme, Água Funda, relata que além desses momentos históricos, havia rememorações de Sinhá Carolina que precisavam ter o seu figurino adaptado de acordo com esses momentos específicos:

“Pensando um pouco na Sinhá Carolina, em alguns flashes que ela tem durante o filme, nós trabalhamos com um figurino mais claro. Então, todo o figurino da Sinhá Carolina, quando está claro, é por causa do flash back – é uma lembrança que ela tem de uma outra época”, comenta Patrícia.

Nesse sentido, houve um trabalho em relação ao psicológico das personagens.

“Quando ela (Sinhá Carolina) está com os figurinos mais escuros, já está indicando a viuvez dela. A gente trabalha então com essa sobriedade. Então, quando ela está com o figurino mais claro, ela está mais alegre, mais altiva, assim como a Curiango também.”

Os presentes que Patrícia Guia recebeu com a obra literária e cinematográfica

Patrícia relata que ganhou muitos amigos, além de ter conhecido filhos de Ruth Guimarães,” a Júnia com o Joaquim, conhecê-los foi uma emoção muito grande”, destaca.

Isso, porque, antes de iniciar esse trabalho cinematográfico, relata que teve contato com algumas obras de Ruth Guimarães. “Também conhecia algumas obras da Ruth. Mas conhecê-los e ouvir deles, como era a Ruth Guimarães, como pessoa e como mãe, foi um grande presente.”

 Profissionalmente também:

“Poder assinar um figurino e pensar e desenhar e ficar horas no estudo foi de crescimento para mim como costureira, como figurinista. E agradeço também ao Cássio por ter confiado no meu trabalho como figurinista”, agradece Patrícia.

O grande desafio: “como diferenciar as fases do filme”, por Igor Macedo

Atores e atriz do filme água funda
Atores e atriz do filme água funda

Igor Macedo foi responsável pela área técnica do filme: som direto, direção de arte, edição de vídeo e fotografia.

Agradece ao diretor pela oportunidade de realizar esse trabalho: “O Cássio me deu uma liberdade para somar nessa questão de fotografia, coloração e tudo mais. Como no filme, tem duas fases: foi pensado até nessa questão de usar a coloração para diferenciar isso um pouco.”, pondera Igor.

As fases, as cores e os planos fotográficos no filme

Na primeira fase, Igor relata que “a coloração é um pouco mais fria. O dia da gravação foi mais chuvoso foi um dia mais acinzentado. Cores mais frias para remeter ao antigamente”, analisa.

Isso não aconteceu na segunda fase do filme, onde houve uma escolha de se trabalhar com cores mais quentes. “Para somar, as gravações foram em dias quentes para trazer essa ambientação de sertão, de explorar essas zonas rurais do Vale do Paraíba”, relata.

O processo de gravação e montagem do filme, Água Funda

Para marcar as intensidades diferentes da obra literária adaptada, Água Funda, Igor relata que pensou o processo audiovisual de forma que “na primeira fase a gente tem um pouco mais de lentidão no ritmo. Porque mostramos a história da Sinhá e o lugar é como se fosse uma prisão”.

E que essa intensidade se modifica na segunda fase propositalmente, “em seguida tem a segunda fase, com uma série de acontecimentos, com um monte de personagens para a gente introduzir”, pondera o diretor de fotografia.

Essas diferenças de momento de intensidade também aconteceram durante as gravações. Igor relata que sentiu que na parte de edição que havia a necessidade de  precisava de cadenciar o ritmo. “A gente tem a apresentação dos personagens e logo em seguida tem os encontros dos personagens e um pouco mais das questões com as entidades.”

Assim, explica que houve sempre a necessidade de fazer essas cadências entre movimento, sons captados, trilhas sonoras, imagens e cores ao longo do das gravações e edição do filme.

Igor relata que também teve os seus presentes com o filme, Água Funda

O primeiro presente que Igor relata, em 10 anos de jornada no audiovisual, foi a primeira experiência de se trabalhar com uma equipe organizada, com pessoas delegando cada função. “Eu nunca tive isso”, comenta o videomaker.

Relata que o trabalho em equipe foi bastante gratificante e que por isso, mesmo sendo “um trabalho de muitas horas. De muitas diárias, mas eu não senti o peso disso por causa da equipe”, agradece.

Por fim, eaplica que não tinha entrado em contato a obra de Ruth Guimarães, “mas através desse trabalho pude conhecer um pouco mais a cultura da nossa região e também quero agradecer ao Cássio por ter acreditado no meu trabalho”.

A produção executiva do Filme, Água Funda, com Geovana Mara

Geovana Mara, produtora executiva, juntamente com Cássio Borges - diretor
Geovana Mara, produtora executiva, juntamente com Cássio Borges – diretor

Geovana Mara, a produtora executiva do Filme, Água Funda, foi a responsável por todo o trabalho de pré-produção, produção e execução do filme. Também se envolveu com o orçamento e a entrega do produto filme, “quase um longa, de uma hora”.

Giovana relata que o produto “foi muito bem recebido pelo público”. E pontua: “incentivado pela Lei Paulo Gustavo e o retorno que a gente teve dos gestores municipais de cultura foi muito bom. Então, a gente sai com a alegria de ter feito uma boa entrega, de ter feito jus ao ter recebido um orçamento de uma lei de incentivo à cultura, que é a Lei Paulo Gustavo”, contempla.

As tensões e o trabalho de produtora executiva

A produtora do média metragem relata que “foi um trabalho muito intenso, com algumas tensões nesse período. Foi um tempo bem justo para a gente conseguir alinhar elenco com locações, logística. Alinhar a expectativa da direção e do roteiro com o produtor audiovisual, que é a pessoa do Igor”, explica.

De acordo com Giovana, houve um cuidado com as frentes, fazendo uma gestão com pessoas que enão tinham experiência com set de gravação, “uma produção com fases, processos também pela primeira vez”, pontua.

“Então, ensinar os processos, convencer todo mundo da importância de se respeitar os processos organizacionais e foi uma experiência muito boa. Tivemos um resultado muito legal em todas as gravações, em todas as diárias”, ressalta a produtora.

O presente recebido por Geovana Mara

“Foi contar a história do nosso Vale, do nosso interior, da conexão com o Sul de Minas através de todo esse talento dessa equipe e dessas pessoas que se doaram durante meses para fazer esse trabalho acontecer”, enaltece.

Público de Água Funda
Público de Água Funda

Sobre Água Funda

Sessão de lançamento de filme Água Funda, de Cássio Borges, lotada
Sessão de lançamento de filme Água Funda, de Cássio Borges, lotada

Água Funda celebra a riqueza e enfatiza as dores do tempo no Vale do Paraíba e Sul de Minas, entre os anos 1880 e 1930. e paralelamente revigora nosso desejo de lutar por aquilo que não queremos abandonar.

O filme traz uma versão sobre essa obra, de Ruth Guimarães, sob o incentivo da Lei Paulo Gustavo, via Secretaria de Cultura de Guaratinguetá.

Classificação indicativa: 16 anos.

Mais informações sobre o filme podem ser encontradas na página @agua__funda.

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