ilustração: Patty Rangel
Meu pai foi caminhoneiro durante toda a vida. Adorava a estrada. E era também um grande contador de histórias. Dele herdei a paixão por estradas e histórias. Por isso, comecei a visitar as cidades mineiras. Ouvi muitas estórias, dentre elas a da noiva de Furquim.
E, nessas minhas viagens pelas cidades históricas mineiras, eu tenho redescoberto muitos dos seus relatos.
Já contei aqui antes, que fui a Mariana no último feriado. Mas estiquei a folga e fui visitar mais uma vez as belezas únicas que essa cidade propicia. Foi aí que me lembrei de uma história que meu pai contava e que me dava muito medo na época. O caso da Noiva de Furquim
O distrito de Furquim
Para quem não sabe, Furquim é distrito de Mariana. Se Mariana é recorde em histórias de assombrações e tem até uma associação de Caçadores de Assombrações de Mariana, a Acam, Furquim é o distrito que mais se destaca em relatos de fantasmas.
O lugar é uma graça. Com uma população é estimada em 1800 habitantes, tem ruas estreitas e casas antigas, com grandes janelas coloridas, construídas no século XVIII.
Tem também a a Matriz Senhor do Bom Jesus do Monte, do mesmo período e a estação de Furquim. Hoje, muito simpático, o prédio funciona como Centro Cultural. A chegada é íngreme e já deixa o visitante sentir o ar interiorano, que não se vê nos tempos de agora. O lugar cheira a tranquilidade. Mesmo assim, essa paz volta e meia é quebrada. O calendário cultural de Furquim é repleto de festas tradicionais e religiosas durante todo o ano.
É muito fácil chegar à Furquim. Para quem está na rodoviária de Mariana, é só seguir sentido a Ponte Nova, e percorrer 23 Km até o trevo, entrando à esquerda. De lá é só seguir mais 2 km e já está no centro de Furquim. O distrito fica a 28 km de Mariana. Um transporte coletivo liga os dois lugares, ida volta, duas vezes por dia.
Para quem quer ficar um tempo, o lugar conta com duas pousadas simples e aconchegantes. Furquim é famoso pela arte em pedra-sabão. O lugar foi fundado em 16 de fevereiro de 1718 e seu nome é em homenagem a Antônio Furquim da Luz, um famoso descobridor de minas na região.
O caso da noiva de Furquim
Meu pai não chegou a conhecer Furquim. Em suas viagens, passava apenas no trevo e foi lá que testemunhou diversas vezes a aparição. De madrugada, ele chegava em casa e enquanto comia a janta preparada pela minha mãe, contava o caso. Da minha cama eu ouvia aterrorizada, e não conseguia dormir o resto da noite.
Meu pai contava que antes mesmo de ver a misteriosa mulher, os pelos do seu corpo já se ouriçavam. Ao aproximar a curva da estrada ele já sentia que algo de estranho iria acontecer. E aí então a noiva de Furquim aparecia. Com longos cabelos loiros e vestida de branco ela esperava o caminhão passar para acenar, pedindo carona.
Por conta das experiências aterrorizantes, ele passava voando pelo local. Não tinha coragem nem mesmo de olhar no banco do passageiro. Tinha receio de que ela estivesse do lado, acompanhando-o na viagem. Sim, porque muitos colegas já haviam contado que ela tinha o costume de ir com os motoristas, por muitos quilômetros à frente.
Meu pai dizia também que a noiva da estrada era bem conhecida dos caminhoneiros. A história que contavam nas paradas em postos de gasolina é que se tratava de uma moça que havia morrido na década de 1970, em um acidente naquele mesmo lugar e que havia vitimado outras dez pessoas. Desde então, ela vigiava a estrada e abordava os motoristas no lugar do acidente.
Morrendo de medo, meu pai contava que não gostava de passar de noite naquele trevo. E quando era obrigado, rezava durante todo o trajeto pela alma da noiva de Furquim. E se gostou da história, não deixe se inscrever em nossa lista de Histórias de Assombração, abaixo do post, para receber as novidades!
Meu avô, Moacir Vieira Pinheiro, era de Furquim e sempre contava a história dessa noiva que aparecia na estrada. Ele era cheio de histórias, adorava.